CONFERÊNCIAS DO JUVI
Causas da Decadência do Povoísmo-Velhismo
Meus Senhores:
A decadência do Povoísmo-Velhismo nos últimos três meses é um dos factos mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e incontestável que nessa história aparece aos olhos do historiador filósofo. Como povoísta-velhista, sinto profundamente ter de afirmar, numa assembleia de povoístas-velhistas, esta desalentadora evidência. Mas, se não reconhecermos e confessarmos francamente os nossos erros passados, como poderemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva? O pecador humilha-se diante do seu Deus, num sentido acto de contrição, e só assim é perdoado. Façamos nós também, diante do espírito da verdade, o acto de contrição pelos nossos pecados históricos, porque só assim nos poderemos emendar e regenerar.
(Qualquer semelhança com a coincidência, é pura realidade.)
Nós, povoístas-velhistas, sempre proclamámos o Inexistencialismo como filosofia universal. E o que é afinal o Inexistencialismo? Se o que não existe, não existe, a sua inexistência existe e a sua existência inexiste. Logo, se não há pão, há fome. Inexiste pão, existe fome. Bom, mas pode haver bolos, dirão naturalmente alguns dos senhores, ao que eu respondo muito simplesmente com uma frase da minha avó: Os bolos não matam a fome. E a sede? Também não, os bolos não são líquidos, e ainda que o fossem, eram açucarados, mais sede faziam. E se quem tinha fome porque não tinha pão for beber um bolo, continua a ter a fome que já tinha, e não mata a sede que agora tem.
(A conferência foi oportunamente interrompida nesta altura pelo estilhaçar da vidraça do Juvi. Ao que parece, um indivíduo que queria o contraditório, agarrou num paralelepípedo da calçada e arremeçou-o contra os vidros da entrada da cervejaria. O orador calou-se, e assim se mantém até hoje. Escusado será dizer que A BADONGA repudia tais actos anti-democráticos, e, por isso mesmo, cessa a partir de hoje a sua actividade jornalística por período indeterminado. A todos os que nos seguiram, um bem-haja e um forte abraço.)
A BADONGA